Carlos E. Belchior
Neste mês vamos celebrar o precursor de Nosso Senhor: São João Batista.
Ele não apenas preparou o caminho para o Mestre, como afirmou sem reservas que
não era digno de desatar ao Senhor as correias de Suas sandálias. Narra-nos o
evangelista:
João dá
testemunho dele e proclama: "Foi dele que eu disse: 'Aquele que vem depois
de mim passou a minha frente, porque antes de mim ele já existia.'" (Jo 1,
15)
Coerente com
a pregação que havia feito, João Batista diminuiu-se a fim de que Cristo
crescesse, mas, ao final, Jesus mesmo atestou que jamais houvera homem nascido
de mulher maior do que este profeta. Vale refletir que o próprio Cristo, como
escreve-nos São Paulo, “Embora fosse de divina condição, não se
apegou ciosamente a ser igual em natureza a Deus Pai. Porém esvaziou-se de si
mesmo e assumiu a condição de um escravo, fazendo-se aos homens semelhante.
Reconhecido exteriormente como homem, humilhou-se, obedecendo até a morte, até
a morte humilhante numa cruz”.
Por isso
Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está acima de todo nome..." (cf. Fl 2)
Tudo isso nos faz avaliar a forma como temos recebido o chamado do Senhor
e também de que maneira testemunhamos essa realidade a cada um dos nossos
irmãos.
"Ele confessou e não negou. Ele confessou: 'Eu não sou o
Cristo.'" (Jo 1, 20)
Cabe, dessa
forma, examinar se em nossas ações temos anunciado o Cristo ou se, ao
contrário, andamos a fazer de Jesus um instrumento de autopromoção.
Deus nos
constituiu acima das demais criaturas ao nos dotar de vontade e inteligência e,
mais do que isso, dirige a cada um de nós um chamado especial: ser santos. E a
santidade só pode vir de uma busca sincera ao direcionar esta vontade e
inteligência para a vontade do Pai. Nossa Senhora, cujo Imaculado Coração
celebramos neste sábado (16), indica-nos que o primeiro passo consiste em dizer
sim ao projeto de Deus. Mas depois não podemos nos apropriar desse projeto como
se essa obra divina fosse um empreendimento particular, pois isso recairia no
pecado original, de submeter todos - inclusive o Criador - a um propósito
pessoal, humano, desobedecendo à ordem natural das coisas. Portanto, devemos
assumir a tarefa que o Senhor nos
confia, mas nunca deixando de assumir a nossa condição de filhos e servos.
Herdeiros da promessa, sim, mas servos de Quem a realiza.
O
Bem-Aventurado Tiago Alberione deixou numa carta os dizeres:
" ...se
tiver a graça de colocar para sempre a minha vida a serviço de Deus e consagrar
as minhas fadigas para a sua glória e para a santificação das almas, devo isso
ao Senhor."
Vemos aí que a própria oportunidade de dedicar-se aos outros não
consiste num mérito individual, mas encerra mais uma graça do próprio Senhor,
que nos chama para o serviço, mas antes nos habilita a bem realizá-lo.
Para o Pe.
Tiago Alberione, todos os acontecimentos do mundo e também de seu cotidiano
eram ocasião de captar a vontade de Deus, de tirar deles ensinamentos para a
vida. Atento a tudo, de tudo aprendeu. Também nós, hoje portadores dessa
mensagem, devemos empenhar-nos em fazer dos momentos mais corriqueiros, porém
singulares, oportunidade do encontro com Deus, com o próximo, bem como com a
própria missão a que o Espírito Santo incessantemente nos impele.
Essa
consciência vem de um apelo, senão um alerta, com que o fundador da Família
Paulina nos exortava:
"Eis
por que deveis ser muito santos e muito mais santos do que os sacerdotes
comuns. Trata-se de salvar muitas almas."
E ao descrever o sacerdote, Pe. Alberione pergunta: “Qual é a missão do
sacerdote na terra? É só salvar-se? É demasiado pouco. É santificar-se? Ainda é
demasiado pouco. Qual é então? É salvar-se a si mesmo, mas salvando os
outros... O sacerdote é homem para os outros.” Pois cada um de nós, igualmente
chamados por Deus, diferentes apenas na vocação despertada, deve mover-se para
Deus e pelo próximo; caminhar para Deus e com o próximo! Caso contrário,
estaremos mais uma vez sentenciando Cristo à cruz ou abandonando-O no caminho
do calvário. Em qualquer situação, não estaremos em comunhão nem com Deus nem
com os irmãos.
Por fim, a santidade é via de salvação não apenas como caminho que se
toma para dela apropriar-se, mas principalmente estrada pela qual poderemos
conduzir as outras pessoas a este mesmo destino.
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