sábado, 22 de outubro de 2011

Lírica Breve (Tagore)

(No. 36)

Senhor, esta é a súplica que dirijo a ti:
fere, fere pela raíz a avareza do meu coração.
Dá-me forças para suportar alegremente
minhas alegrias e tristezas.
Dá-me forças para que meu amor
frutifique em serviço.
Dá-me forças para que eu nunca despreze o pobre,
nem dobre meus joelhos diante do poder insolente.
Dá-me forças para que eu elevar minha mente
muito acima da pequenez do dia a dia.
E dá-me forças, finalmente,
para entregar, com amor, minha força
à tua vontade.
.   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .


(No. 50)

Eu estava mendigando, de porta em porta, no caminho da aldeia,quando tua carruagem de ouro apareceu ao longe, como sonho deslumbrante. E fiquei me perguntando, extasiado, quem seria esse Rei dos reis.

Minhas esperanças voarem alto, e pensei que meus dias infelizes haviam chegado ao fim. Fiquei sentado, esperando esmolas que me seriam dadas sem serem pedidas, e um tesouro, espalhado por toda parte, na poeira.

A carruagem parou onde eu estava. Teu olhar pousou em mim e desceste sorrindo. Senti que a felicidade de minha vida, havia enfim chegado. Então, de repente, estendeste a mão direita e me perguntaste: "O que tens para mim dar?"

Ah, mas que gesto régio foi este de abrir tua mão para pedir esmola a um mendigo? Eu estava confuso e não sabia o que fazer. Então, de vagar tirei de minha sacola o menor grão de trigo, e o entreguei a ti.

Contudo, qual não foi minha surpresa quando, no fim do dia esvaziei minha sacola no chão e encontrei um grão de ouro entre as pobres migalhas que restavam. Chorei amargamente, lamentando não ter tido a coragem de entregar-me todo a ti.



POESIA MÍSTICA
(Lírica Breve) - Tagore
Paulus Editora

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